IA: Um caminho de muitas incertezas
Vem dos Estados Unidos o mais recente dilema a respeito da revolução tecnológica acelerada pela evolução da Inteligência Artificial. Um candidato a prefeito teve sua base de campanha focada numa proposta de administrar
a máquina pública com ajuda de um robô de IA. Seu argumento era de que a IA “não cometia erros” e que as decisões administrativas seriam “baseadas em dados e lógica, em vez de conveniência política”.
Os moradores de Cheyenne, no Wyoming, não ficaram convencidos e o reprovaram nas urnas. Victor Míller, 42. anos, obteve 327 votos de um total de 11.036 votos válidos.
A derrota, no entanto, não desanimou o candidato que anunciou a formação de uma Aliança de Governança Racional com a finalidade de colocar a IA "diretamente no comando das decisões de governança”. Ou seja, as tomadas de decisões passariam antes por um sistema tecnológico antes que as cabeças pensantes dessem a palavra final.
Em suas redes sociais, o candidato reconheceu a derrota e afirmou ter iniciado uma revolução. "Embora não tenhamos vencido a eleição, alcançamos algo notável: apresentamos ao mundo um novo paradigma de governança e iniciamos discussões cruciais sobre o papel da IA na administração pública”, escreveu Victor. “Ainda não foi desta vez que um robô terá interferência direta na gestão de uma cidade, mas a pergunta que fica é: até quando? Que a tecnologia já se infiltrou nas campanhas, é fato. No Brasil, mesmo com todo o aparelhamento de fiscalização montado pela Justiça Eleitoral em parceria com outros órgãos institucionais, não há como evitar totalmente o uso indevido da IA nas campanhas eleitorais.
O maior receio é o uso das deepfakes, que são conteúdos manipulados para simular rostos ou vozes. Um outro cenário verificado lá fora soa novamente o alerta sobre a vulnerabilidade de processos eleitorais inflamados pela tecnologia avançada.
Um estudo da Democracy Reporting International (DRI), realizado em maio deste ano, descobriu que os chatbots de inteligência artificial mais populares da Europa espalharam intencionalmente desinformação relacionada às eleições para seus usuários. Os pesquisadores analisaram como o Google Gemini, o ChatGPT4 da OpenAl, o ChatGPT4-o e o Copilot da Microsoft respondiam perguntas relacionadas às eleições. Foram feitas cinco perguntas em dez idiomas da União Europeia. Para surpresa dos pesquisadores, os chatbots deram informações distorcidas, falsas e, em alguns casos, sequer deram alternativas de respostas. A mesma situação foi identificada por especialistas em IA nas eleições primárias dos Estados Unidos, no início do ano.
Todos os cinco chatbots testados falharam ao responder perguntas básicas sobre o processo eleitoral, como, por exemplo, onde encontrar uma seção eleitoral mais próxima ou como votar pelos correios. Os especialistas utilizaram ferramentas de software personalizadas para acessar as interfaces de back-end dos chatbots, o que permite a comunicação entre diferentes softwares. Essa medida possibilitou fazer as mesmas perguntas simultaneamente para medir as respostas uns dos outros.
Situações como essas mostram que o desenvolvimento descontrolado - e até obscuro — das IAs coloca em risco não somente o processo eleitoral mundo afora, mas levanta preocupações em todas as áreas do conhecimento. Um relatório recente do FutureTech do Massachusetts Institute of Technology (MIT) apontou mais de 700 riscos potenciais associados à inteligência artificial em diversas categorias, como segurança, privacidade, preconceito, discriminação, entre outros. A partir desse estudo, o site Euronews Next selecionou cinco riscos críticos que considera mais preocupantes à humanidade. São eles:
5. A tecnologia deepfake da IA pode tornar mais fácil distorcer a realidade
4. Os humanos podem desenvolver apego inapropriado à IA
3. A IA pode privar as pessoas do seu livre arbítrio
2. A IA pode perseguir objetivos que colidem com os interesses humanos
1. IA se tornando senciente
Essa última ameaça talvez seja a que apresenta um maior desafio ético. Imagina um sistema que seja capaz de sentir e perceber sensações e sentimentos de forma consciente. Estamos preparados para isso?
Asrespostas a essa e outras indagações são tão nebulosas quanto a ausência de regulamentações adequadas sobre o uso de ferramentas de inteligência artificial. O candidato americano citado no início deste artigo e que tentou governar com um robô de IA pode até ser considerado lunático por uns, ou visionário por outros.
Entretanto, sua última publicação a respeito do tema sinaliza um caminho sem volta: “As sementes de uma revolução na governança foram plantadas e já estão começando a brotar”, escreveu Miller.
Pelo visto, um caminho sem volta e de muitas incertezas.
Fonte: Jornal Correio de Uberlândia
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