E se a Roda não Tivesse Sido Inventada?

Evidjuri
Evidjuri
Negócios
03/12/2024
E se a Roda não Tivesse Sido Inventada?
Estudo recente publicado por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores busca solucionar um dos mistérios mais antigos da humanidade: a origem da roda

Acredito que você, leitor, já tenha ouvido por aí a expressão "reinventar a roda". Geralmente, ela é usada como referência a alguma pessoa que tenta redescobrir algo que já foi descoberto, desenvolvido ou inventado anteriormente, muitas vezes sem perceber que a solução ou determinada coisa já existem, estão disponíveis e são imutáveis em certa medida.

Mas, por que em tais circunstâncias as pessoas fazem referência justamente à roda? Esse jargão não poderia ser "reinventar a imprensa" ou "reinventar o computador", ou qualquer outra invenção que tenha revolucionado a humanidade como no caso da roda?

Particularmente, eu credito essa referência mais como reverência ao que considero uma das maiores inovações do homem e que, pasme, até hoje não tem um autor conhecido. Algumas das invenções mais importantes da história - a roda e a escrita, por exemplo - têm seus inventores perdidos no tempo, embora o impacto delas tenha moldado o mundo em que vivemos.

E se a roda não tivesse sido inventada?

Em resposta à pergunta acima e que dá título a este artigo, temos que admitir que a invenção da roda teve um impacto profundo na civilização humana, e é desafiador especular completamente sobre os cenários alternativos caso ela não tivesse sido inventada. No entanto, podemos considerar superficialmente algumas consequências, tais como:

Métodos alternativos - Sem rodas, os humanos poderiam ter desenvolvido métodos alternativos de transporte, como trenós, patins ou outros mecanismos deslizantes. Isso provavelmente teria sido menos eficiente do que rolar sobre rodas, levando a um transporte mais lento de bens e pessoas.

Avanços tecnológicos - A roda não somente integra alguns dos principais meios de transporte, mas também é um componente fundamental em máquinas e várias tecnologias. Sem rodas, o desenvolvimento de certas máquinas e ferramentas poderia ter sido prejudicado, afetando a agricultura, a indústria e outros aspectos da vida diária.

Urbanização e Infraestrutura - A roda desempenhou um papel crucial no desenvolvimento de carroças e vagões, permitindo o movimento eficiente de mercadorias e facilitando o comércio. Sem isso, o crescimento das cidades e o estabelecimento de infraestrutura complexa poderiam não ter acontecido.

Impacto cultural e social - A roda influenciou a arte, a literatura e os símbolos culturais. Sem ela, esses aspectos da expressão humana poderiam ter evoluído de forma diferente. Conceitos relacionados a formas circulares, movimento circular e metáforas envolvendo rodas poderiam ter assumido formas alternativas.

Avanços científicos e de engenharia - A compreensão da física e da mecânica, bem como dos princípios de engenharia relacionados ao movimento circular, provavelmente seria diferente em um mundo sem rodas. A ausência de rodas pode ter levado a desenvolvimentos científicos e tecnológicos alternativos.

É importante notar que essas especulações são altamente hipotéticas, e a invenção da roda foi um marco significativo na história humana. O impacto da roda no transporte, na tecnologia e na cultura foi tão profundo que é desafiador imaginar um mundo sem ela.

Fica então a pergunta de como um legado tão importante para a humanidade tem seu autor - ou autores - desconhecido? Quem inventou a roda? Por isso, diante dessa indagação e da relevância dessa invenção para a humanidade, decidi ir atrás de respostas, de informações mais consistentes e recentes.

Certo é que a invenção da roda é considerada um grande avanço tecnológico na história da humanidade, sendo que as primeiras evidências do uso de rodas remontam a 6.000 anos, segundo pesquisas.

Essa invenção, que revolucionou o desenvolvimento humano ao mudar o curso da história tecnológica e social, continua sendo objeto de debate sobre onde e como foi descoberta. Tanto é que, usando técnicas avançadas de análise mecânica computacional, os pesquisadores americanos (Lee R. Alacoque, Richard W. Bulliet e Kai A. James) propuseram uma nova teoria sobre a evolução da roda, traçando suas origens por volta de 3900 a.C. nas minas neolíticas dos Montes Cárpatos.

A roda, frequentemente descrita como a invenção mecânica mais importante de todos os tempos, permaneceu envolta em mistério, sem um consenso claro sobre os detalhes específicos de sua invenção. Embora ferramentas como datação por carbono tenham fornecido prazos aproximados e identificado civilizações potenciais envolvidas em seu desenvolvimento, nenhuma cultura ou grupo de pessoas foi conclusivamente identificado como responsável.

A equipe de pesquisadores decidiu abordar esse problema empregando mecânica estrutural computacional e design auxiliado por computador para tentar decifrar esse enigma arqueológico.

Por meio de modelos físicos baseados em mecânica computacional, os pesquisadores simularam a resposta elástica e a distribuição de tensões de estruturas de rodas antigas encontradas em registros arqueológicos. Essa abordagem permitiu novos insights sobre a função exata das rodas e seus atributos físicos únicos, levando a uma proposta mais detalhada de como a roda pode ter evoluído por meio de uma série de inovações progressivas.

O estudo sugere que a evolução da roda pode ter ocorrido ao longo de três grandes inovações. A primeira fase envolveu a transição de "rolos livres", que eram toras ou cilindros não fixos colocados sob objetos pesados para facilitar seu movimento.

No entanto, esses rolos livres tinham uma desvantagem significativa: eles se tornavam inúteis depois que o objeto passava por cima deles, exigindo redistribuição contínua ao longo do caminho. Esse problema era particularmente grave em minas estreitas e profundas, onde mover os rolos repetidamente era impraticável

A segunda inovação fundamental foi o uso de rolos unilaterais, uma adaptação do conceito de rolo livre. Em vez de deixar os rolos para trás, os mineiros neolíticos teriam desenvolvido uma maneira de prender os rolos diretamente ao objeto que estavam movendo, em um tipo de protótipo rudimentar de carrinho.

Esse desenvolvimento reduziu o atrito, melhorou a manobrabilidade em passagens estreitas e permitiu o movimento de cargas pesadas em distâncias maiores sem a necessidade de reposicionar os rolos. Embora essa abordagem tenha introduzido algum atrito adicional devido à interface entre o rolo e o objeto que estava sendo movido, foi um avanço significativo em relação ao sistema de rolo livre.

Finalmente, a terceira fase na evolução da roda envolveu a introdução de ranhuras nos rolos, o que eventualmente levou ao conceito de um eixo central e estrutura de roda. Essas ranhuras permitiram que os rolos se alinhassem de forma mais eficiente e reduziram ainda mais o atrito por meio da aplicação de lubrificantes. Com o tempo, as ranhuras se expandiram e se tornaram um canal central, dando origem ao primeiro projeto de roda de eixo fixo, uma mudança monumental na história tecnológica.

Uma das principais ferramentas usadas nesse estudo foi um algoritmo de design computacional que permite a evolução gradual de um sistema de roda e eixo por meio de uma série de melhorias sucessivas.

Com base em técnicas de otimização topológica, o algoritmo gera automaticamente designs estruturais usando uma descrição matemática da função mecânica que o sistema deve cumprir. Ao simular como as rodas provavelmente evoluíram há milhares de anos, os pesquisadores conseguiram recriar como o design se adaptou progressivamente para melhorar o desempenho.

Um aspecto inovador do trabalho é o uso de um modelo de design dependente de contato que simula as forças que atuam no eixo e como diferentes designs interagem com essas forças. Essa abordagem permitiu que os pesquisadores entendessem como as primeiras rodas provavelmente se beneficiaram do uso de materiais disponíveis em seu ambiente, como madeira, e como os primeiros inventores otimizaram seus designs para maximizar a eficiência.

O estudo também se baseia em descobertas arqueológicas recentes. Em particular, os pesquisadores destacam que mais de 150 modelos de carroças de quatro rodas foram desenterrados na região dos Montes Cárpatos, onde mineradores neolíticos são conhecidos por terem trabalhado na extração de cobre. Esses modelos de argila, datados por carbono em torno de 3600 a.C., representam alguns dos primeiros exemplos conhecidos de transporte com rodas.

Os autores do estudo sugerem que esses artefatos, alguns dos quais parecem ter sido usados como copos cerimoniais, são representações simbólicas das primeiras Carroças usadas para mover minerais dentro das minas. Acesse Configurações para ativar o Windows.

Além disso, o ambiente específico de mineração dos Cárpatos parece ter desempenhado um papel crucial na evolução da roda. A necessidade de transportar grandes quantidades de minério por túneis estreitos e sinuosos impulsionou essas inovações, demonstrando como o contexto ambiental influencia a criação tecnológica.

O estudo oferece uma nova perspectiva sobre a origem da roda, sugerindo que sua invenção foi um processo evolutivo em vez de um evento singular. Embora a roda possa parecer uma invenção simples, seu desenvolvimento foi o resultado de um processo complexo que envolveu a interação de inovação técnica, o ambiente natural e as necessidades sociais e econômicas das primeiras civilizações.

Eu teria muito mais para falar sobre o legado da roda em todas as invenções que sucederam à sua descoberta... E é por tudo isso, que vejo a roda como uma das maiores invenções de todos os tempos. Dúvida disso? Clique em qualquer site ou aplicativo de buscas e procure por "Maiores invenções da humanidade". A roda sempre é citada.

Fonte: Jornal de Uberaba

Gostou desse conteúdo e quer saber mais? Acompanhe as atualizações do portal ou as nossas redes sociais!