Simples Como uma Receita de Torta

Evidjuri
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Big Techs
28/01/2025
Simples Como uma Receita de Torta
O que as plataformas de redes sociais mais buscam alcançar como meta (ops, novamente uma citação) é o tempo de tela.

A regulamentação das redes sociais tem tomado cada vez mais espaço em debates envolvendo órgãos internacionais, como a ONU, governos de países de todo o mundo, empresas e, em menor patamar, entre a própria sociedade civil. Não é que as pessoas tenham menor interesse pelo assunto, ao contrário, a questão é que boa parte das informações que chegam até os usuários é repassada via redes sociais. As pessoas se habituaram a ver notícias e acontecimentos simplesmente abrindo um aplicativo no celular. E aí está o X da questão, com o perdão da comparação com uma dessas plataformas. Mas a citação é pertinente.

O que as plataformas de redes sociais mais buscam alcançar como meta (ops, novamente uma citação) é o tempo de tela. Quanto mais tempo os usuários passam rolando o dedo para cima, mais chance de ver novos produtos e serviços de anunciantes e, consequentemente, mais dinheiro as empresas de tecnologia ganham. Então, a falta de uma regulamentação não preocupa em nada as big techs. Já o debate sobre uma legislação que as enquadre e atribua responsabilidades, sim.

Quando um assunto considerado polêmico é postado nas redes sociais, imediatamente há um enorme engajamento. Todos querem dar sua opinião sobre o assunto, se colocar a favor ou contra, assumir uma posição. E, mesmo quem fica em cima do muro, não se exime ao menos de repassar o post adiante, compartilhando com amigos e grupos diversos. É essa dinâmica que faz crescer o interesse pelas plataformas e prender a atenção dos usuários. Daí, a defesa em deixar o terreno virtual livre de regras. É o que tem acontecido recentemente com algumas empresas reduzindo seu sistema de moderação e tirando barreiras que possam filtrar determinados tipos de conteúdo. Para além de posts ideológicos, essa abertura pode dar brecha para a proliferação de conteúdos considerados ofensivos, violentos, discriminatórios.

Para reter a atenção, as redes sociais entregam o que seus usuários mais gostam ou procuram. É como se houvesse um programador específico para cada usuário. À grosso modo, pode-se dizer que é por aí mesmo. Só que por trás da tela não há funcionários, e sim o algoritmo. Ah, esse misterioso e eficiente mecanismo que vive em constante aprendizado e que procura saber mais sobre você do que você mesmo. Mas, o que é mesmo o algoritmo?

“Algoritmo é um conjunto finito de regras e instruções para solucionar um problema ou realizar uma determinada tarefa. Na prática, visa alcançar um objetivo, por isso é preciso que sua estrutura siga uma lógica sistemática, e conta com a entrada e saída de informações mediadas pelas instruções.”

Vale ressaltar que o algoritmo é diferente de programa. Todo programa é baseado em algoritmos, mas nem todo algoritmo pode gerar um programa. Apesar de ser utilizado para se referir a tudo que envolve tecnologia e sistema computacional, o termo algoritmo (bem menos comum) surgiu na Idade Média e é proveniente do nome de Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, um matemático persa que viveu no século IX e é considerado o pai da álgebra.

Qualquer tarefa que siga determinado padrão e alcance um objetivo específico pode ser descrita por um algoritmo. Quer um exemplo simples? Uma receita de torta. Considere os ingredientes como os dados de entrada, enquanto o passo a passo para fazer o prato são as instruções lógicas. Já a saída, ou resultado, é o prato finalizado. O mesmo conceito se aplica às instruções de montagem de um guarda-roupas ou à construção de uma casa. Se você pular uma etapa, o processo não é concluído. Ou, como a torta, o móvel não se sustenta sem os pés, e a casa não se mantém erguida sem as armações e vigas de sustentação.

Um algoritmo vai ficando mais complexo conforme se necessitam mais condições para abranger novas situações e englobar novos cenários. Tudo depende de qual objetivo se pretende alcançar.

Aí chegamos ao ponto que quero destacar: com o aprendizado de máquina, os algoritmos são treinados para atender a uma demanda de quem produz aquele modelo. As grandes empresas de tecnologia, por exemplo, ajustam o algoritmo em suas plataformas de maneira a mapear a vida das pessoas, influenciando comportamentos e consumos. Quando a Meta anunciou o fim do programa de verificação de fatos em suas redes – Facebook, Instagram e WhatsApp – a princípio somente para usuários dos Estados Unidos, sugeriu que seu sistema de moderação de conteúdos não iria filtrar mais assuntos considerados polêmicos e que até então não chegavam para parte de seus seguidores. É evidente que cada usuário recebe conteúdo diversificado, de acordo com o modo como interage nas redes. Entretanto, a tendência é que o salvaguardo da censura desça a um nível em que as pessoas passarão a ter mais visibilidade de assuntos dos quais não se interessavam tanto ou simplesmente ignoravam. É o caso de temas políticos que, queira ou não, estão entre os que mais geram engajamento, para o bem ou para o mal.

Dias desses vi uma postagem de enquete em um perfil regional que fazia a seguinte pergunta: “Defina Donald Trump em uma palavra.” Nas centenas de comentários, que mal se leu, foram críticas ou elogios ao ex-presidente dos Estados Unidos. Poucos foram aqueles que realmente deram uma resposta objetiva. Por trás de uma publicação de conteúdo político sempre há um propósito subentendido. No caso deste perfil, acredito que tenha sido aumentar o engajamento e prender a atenção do usuário. Assim funcionam as plataformas digitais. Com a mudança em seus mecanismos de controle, algumas plataformas passaram a ter moderação automática das postagens.

O que isso significa? Menos controle e mais liberdade para os usuários se expressarem. Mesmo que essa liberdade, às vezes, fragilize a integridade do outro, gere reações violentas e a disseminação de notícias falsas ou distorcidas. Se vai haver uma revolução, o cenário hoje aguenta para ouve direção. O fato é que as plataformas digitais encurtaram ainda mais o fosso entre governo e tecnologia. E agora seus mentores chegaram ao topo da pirâmide a ponto de se acomodarem na janela executiva da nação mais poderosa do mundo.

Assim caminha a humanidade!

Fonte: Jornal Correio de Uberlândia 

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