Fim de Ano Abre Nova Temporada de Caça às Vítimas
Quem se lembra desse conto do vigário? Uma pessoa encontra uma carteira caída no passeio e olha desconfiada. Uma segunda pessoa aparece e também percebe a mesma carteira e comenta com a outra. Nenhuma das duas assume a propriedade. De repente, surge um terceiro indivíduo alegando ser o dono. Ele abre a carteira e retira um documento que comprova a propriedade. Simula satisfação por ter encontrado seus pertences e promete uma recompensa à dupla que supostamente a havia encontrado. O proprietário então diz para acompanhá-lo até um escritório onde estaria a tal recompensa, em dinheiro. Uma das testemunhas se entusiasma e incentiva a outra a irem buscar a quantia prometida. Só que essa pessoa, justamente àquela que chegou logo depois que a primeira avistou a carteira no chão, é comparsa do suposto dono da carteira. O resto da história provavelmente você já sabe.
Hoje em dia, os golpes estão mais sofisticados e não é mais preciso estar cara a cara com a vítima. Tudo acontece no tempo da vítima, que é atraída para uma situação por meios digitais. Seja um e-mail, uma postagem em rede social, um link que chega por SMS. E quando a pessoa se dá conta de que talvez tenha caído num golpe, já é tarde. O dinheiro foi parar em outra conta bancária, que foi transferida para outra conta e por aí vai.
Em artigos anteriores, já mencionei alguns desses golpes, a prática utilizada e como se prevenir. Mas, chega fim de ano, 13º entrando na conta, Black Friday a todo momento, todo mundo correndo para ir às compras e muitas tentações irresistíveis. Está aberta uma das principais temporadas de caça a novas vítimas.
O do momento é uma mensagem de texto por SMS que alerta a pessoa sobre uma pendência na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) relacionada a uma multa de trânsito. Ao clicar no link enviado, a pessoa é direcionada a um site falso da carteira digital e, posteriormente, a uma página também falsa do gov.br. Além de fornecer os dados pessoais, a vítima é levada a baixar uma guia de pagamento de taxa para evitar a suspensão da sua CNH. O golpe já se alastrou para todo o país, tanto que a Associação Nacional dos Detrans (Departamento Estadual de Trânsito) enviou alerta geral com orientações contra a fraude. Segundo o órgão, já foram registrados golpes em 18 estados e no Distrito Federal.
Os Detrans não enviam notificações por SMS, e-mail ou aplicativos de mensagens, nem fazem contato por telefone. Qualquer notificação é feita por vias oficiais, seja pelos Correios, ou publicadas em Diário Oficial e site do Departamento de Trânsito. Por mais alerta que se faça, os golpes continuam fazendo cada vez mais vítimas. Uma pesquisa feita pelo DataSenado em parceria com o instituto Nexus apontou que um a cada quatro brasileiros afirmou ter caído em golpes digitais e perdido dinheiro, no período de junho de 2023 a junho deste ano. O estudo é considerado o mais amplo sobre o tema no País, tendo ouvido 21.808 pessoas de todos os estados e do Distrito Federal e tem nível de confiança de 95%.
São Paulo é a cidade que teve mais golpes digitais. O estado de São Paulo também liderou as estatísticas (30% das vítimas). Entre os brasileiros que afirmaram que já perderam dinheiro com os golpes digitais, 51% têm renda familiar de até dois salários mínimos, 35% ganham entre dois a seis salários mínimos, e 14% recebem mais de seis. De acordo com a pesquisa, a clonagem de cartão, fraude de internet e invasão de contas são alguns dos golpes mais comuns. Um outro estudo divulgado neste ano pela OLX estima que os brasileiros perderam cerca de R$ 1 bilhão em golpes digitais em 2023.
E aí vem a pergunta que todo mundo faz: “Mas, por que as pessoas continuam caindo em golpes?” Bem, não é difícil apontar os motivos, porém a questão é mais complexa do que uma mera resposta direta. Enumerar os fatores é como fazer uma lista de supermercado. Você lembra de coisas e anota. Avanço da tecnologia, aprimoramento das técnicas usadas pelos farsantes, rapidez na ação criminosa, esperteza, manipulação psicológica, tentação por ganhar dinheiro fácil e de maneira rápida... A lista não termina.
Fatores emocionais e psicológicos são cada vez mais explorados pelos golpistas. Se algo parece bom demais para ser verdade, muito provavelmente é mentira. Se há urgência num pedido de confirmação ou pagamento, então corra da proposta na mesma velocidade. Se a tentação de clicar para ver for grande, conte até dez lentamente. Você vai perceber que a sensação de adquirir algo rapidamente reduz à medida que sua mente desvia o foco para outra atividade.
“Abaixo, compartilho algumas dicas selecionadas do site Olhar Digital, especializado nesse tipo de assunto, e que são de fácil entendimento para ajudar na segurança online. Confira:
Não salve senhas online
O Google possui um sistema de gerenciamento de dados que sugere aos usuários a hospedagem de senhas. Na prática, isso significa que, enquanto estiver usando o Google como buscador online e fizer o login em um site, vai aparecer uma janelinha no canto da sua tela perguntando se você não deseja salvar a sua senha; fazer isso descartaria a necessidade de sempre fazer o login de forma manual.
O problema é que, se alguém invadir o seu computador remotamente ou acessar a sua máquina (presencialmente) sem a sua autorização, esta pessoa teria acesso às suas senhas. Uma vez com estas senhas em mãos, o invasor teria pleno domínio dos seus dados de login para entrar nas plataformas que você utiliza, como redes sociais, e-mail, senhas para sites de trabalho, bancos, etc. Portanto, previna-se e não salve as suas senhas online.
Desative o preenchimento automático
Sabe quando você clica num campo de texto para digitar e-mail, CPF ou endereço, e o seu navegador sugere este dado para você automaticamente? Pois bem, o nome disso é preenchimento automático. Apesar de parecer inofensivo, isso carrega o mesmo problema do tópico anterior, mas é ainda mais fácil de ser acessado: qualquer pessoa com pleno acesso ao seu PC pode descobrir os dados sensíveis que você já preencheu (até o número de cartões de crédito e números de segurança destes cartões) e fazer uma cópia para si mesmo para usar mais tarde.
Para evitar dor de cabeça, a sugestão é abrir as configurações do navegador e desativar o recurso do preenchimento automático.
Insira senha em arquivos com dados sensíveis
Muitas pessoas guardam arquivos com dados sensíveis no PC, celular, pen drive, tablet e até em sistemas de nuvem. Coloque camadas extras de proteção nestes arquivos — o que deve variar de acordo com o local onde você hospedou. No caso de sistemas de nuvens, o OneDrive oferece um cofre para todos os usuários: o sistema garante uma série de possibilidades para manter os seus arquivos seguros, como senhas, leitura biométrica, reconhecimento facial, verificação em duas etapas, envio de códigos por e-mail, etc.
Não use redes públicas de Wi-Fi
Usar redes públicas de Wi-Fi é um hábito muito comum quando os usuários saem de casa e não têm pacotes de dados para acessar as redes sociais. Acontece que hackers podem utilizá-las para acessar o seu dispositivo e roubar dados, como informações sensíveis (nomes de usuários, senhas, CPF salvo no preenchimento automático do navegador) e arquivos (fotos, vídeos, documentos, áudios).
Primeiramente, saiba que é possível mudar o nome de uma rede e torná-la pública. Isto é, os cibercriminosos podem disponibilizar propositalmente uma rede ao público — utilizando um nome parecido com o Wi-Fi de um shopping ou praça — para fisgar as vítimas e depois roubar seus dados. Ou, em um segundo caso, hackear o sistema de uma rede pública e utilizá-la para roubar os dados daqueles que estão conectados.
Use senhas difíceis
Evite datas de nascimento, CPF ou números em sequência, por exemplo. Criar uma senha forte e fora do convencional é essencial para dificultar a vida dos cibercriminosos e ainda proteger os seus dados e arquivos com mais eficácia.
Use letras vogais e consoantes (em caixa alta e baixa), números e caracteres especiais (&, *, $, %, &, 1).
Não insira o seu e-mail principal em qualquer lugar
Muitos sites e plataformas exigem que você crie uma conta ou cadastre o seu e-mail para acessar determinado serviço. A não ser que você pretenda utilizar este site ou plataforma todos os dias, nunca utilize o seu e-mail principal. Tenha um e-mail reserva, aquele que você só insere em lugares porque precisa do serviço para uma única vez.
E qual o motivo disso? Porque os sites e plataformas são atacados diariamente, e estes ataques vazam os dados obtidos na deep web ou dark web, o que deixa seu e-mail disponível para hackers praticarem phishing. Se você já recebeu algum e-mail e percebeu que era uma tentativa de golpe, é porque ele vazou na internet junto de várias outras informações.
Verifique endereços de e-mail com atenção
Sempre que receber um e-mail de qualquer tipo de instituição financeira ou provedora de serviços, verifique o endereço do remetente. Não importa se é uma comunicação de cobrança, envio de boletos, ou apenas divulgação de serviços: clique no remetente e verifique se o endereço é oficial.
Endereços falsos apresentam caracteres especiais e alfanuméricos, além de não terem um registro personalizado.
Jamais forneça dados sensíveis pela web
Preste atenção: nenhum banco, jamais, vai entrar em contato com você espontaneamente para que seja feito o envio de dados sensíveis. Por isso, se você recebeu uma mensagem solicitando seu endereço, números de cartões, CPF ou dados bancários, tome muito cuidado. No caso de e-mails, basta verificar o endereço do remetente: os golpistas sempre usam endereços com caracteres aleatórios e alfanuméricos, que são perceptivelmente falsos.
O mesmo aviso vale para ligações, chats ou mensagens de texto no celular. Se houver um problema com sua conta bancária ou cartão, você deve procurar o número oficial de atendimento ao cliente da instituição e ligar você mesmo.
Fonte: Jornal Correio de Uberlândia
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